28 janeiro 2013

==> Branco

As paredes manchadas em volta incomodavam, como se aquelas manchas fossem as responsáveis pelos respiros sufocantes que dava, pelos pensamentos que ali vinham e ficavam.

Assim, pensou em pintá-las de branco o mais rápido possível. E fez.
A cada rolada, os pelos de carneiro espichavam-se na superfície, cobrindo aos poucos o tempo, enquanto seus pelos também ouriçavam-se em sua pele. Era seu depoimento.

Cobria a tinta. Aos poucos apagava um sorriso aqui, outro ali, e algumas lágrimas estouravam ao voar com o vento. Com o coração atento, o pincel ia lento propositalmente, curtia aquele momento, como que num dia muito quente, ao saborear o sorvete doce nas mãos escorrendo, refrescando tudo que tem dentro. Gelando as veias, os órgãos, acalmando o sangue, refrescando o pensamento.

Era assim que pintava, sem técnica, talvez com conceito. Pintava e ria das marcas logo sumidas. Sujeiras de tempo e marcas de beijos.

As paredes são como os livros: falam baixinho, contam histórias; mostram imagens e lembranças.
Mas agora as paredes estão brancas.














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