09 fevereiro 2017

==> Das palavras que perfumam.


Às vezes, me perco entre preferir o Sol ou a Lua.

Entro em crise e me lembro de que algumas preferências não precisam estar, nem ser. Somente completar.

Então, quando chove, vou rodar naquelas gotas que caem, até me sentir nuvem. Estufo, explodo e chovo em mim mesmo.

Daí, sai aquele arco-íris que a gente sempre para pra ver, eu seco em terra, germino e, pasmem... brotam flores dentro de mim. É sério.

E pra provar, acabei de colher essa, que ofereço a vocês.



02 setembro 2015

==> Do bem


Em benefício do estar, dou goles nas taças de bens que me satisfazem os olhos. Canto em bem maior ou o mais alto possível, para chegar ao infinito e noutro canto. Somo ventos a brisas, poças a rios enlameados e sonhos inteiros aos ainda não sonhados.

A bem do que é bom, me dispo das ausências que me vestem, descalço as botas do andar perdido em monólogo mágico. Sussurro ao ouvido que me entende calado, suado, zoado, nu ou maltrapilho, no frio da asa da caneca e quente como o chá de dentro, que me abraça vermelho e saboroso. (Assim, como meus pensamentos.)



16 julho 2015

==> Sobre hoje, quando acordei


Hoje eu acordei sem saber falar.
Passei um tempo em desespero, pensando que eu poderia nunca mais me comunicar com ninguém, cantar e ter o silêncio quando bem entendesse.

Me olhei no espelho e não vi meu rosto como ele é. Só vi letras, palavras. Tipografia de mim mesmo. 

As letras dançavam e as palavras formavam. Eram espirais, quadrados, círculos de frases que se concretizavam na minha pele. Poesia que batia em mim e não soltava, como tatuagem em tinta óleo.

Me lembrei que isso era absurdo e não poderia acontecer. Talvez fosse um sonho.
E era.
Incrivelmente concreto sonho!





























Imagem retirada de http://setimoverdemundopan.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.html

13 junho 2015

==> Contemporâneo

A palavra não é só palavra porque é dita ou escrita.

Ela pode ser de qualquer forma, em outra língua e tudo mais. Mas aqui dentro ela é uma paleta com cores que explodem em qualquer tela, mesmo sem saber o que pintar.

É gestual, não acadêmica, antiarte de quintal, tecido vagabundo em tripé quebrado e torto, é surto de poesia, epidemia onírica, é não respeitar regras bizantinas, nem simetria. Aquarela encharcada em cuspe, gravura em papel de pão, piche riscando um grafite dispensado, num muro quebrado de um palácio decadente, onde um anjo repousa sem braços e, seguindo mais adiante, tem aquela rua que antes era trecho de protesto e, hoje, recebe uma feira de quinta.
Ela vai sem harmonia, de segunda a sexta, num gozo de tintas com todos os tons. Paisagem careta, natureza esquartejada, retrato de general que se transforma em riscos secos de pastel solto em poeira que o vento bate e leva para não sei onde.

Ela sofre, depois ri da sua própria poesia exagerada. Depois sofre de novo. E assim vai, até não pintar nada que comprem em vida.

Mas até que sai algum esboço que compensa.



    Imagem: M.C. Escher


23 fevereiro 2015

==> Sonhossíntese


Vou ali colher as estrelas que plantei ontem.
Nos sonhos funciona assim: planta ontem, colhe hoje e continua a sonhar amanhã.

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02 novembro 2014

==> Oração Ao Tempo XXI

Tempo que se confunde entre os ventos, embalam cada dia vivido (cada dia lindo), agradeço-te pelo samba que pisou comigo: batuque no pelo, em "pas de deux".
Agradeço-te, também, pelos dias não lindos, por cada tapa em sonho que me deu, mordida de cachorro, picada de mosquito, pelo coração rasgado, costurado com fio dental, cicatrizado somente com o passar do seu carinho.

Gratidão à parceria de tanta vida feita e tanta que se fará em prosa, verso e poesia. O agradeço por cada grito de socorro ouvido, desesperado em sequestro da alma e resgatado pelo seu sorriso.

Salve, salve! E parabéns, em tempo. O mérito é seu, meu grande amigo.

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18 agosto 2014

==> É cada ideia...

Andei em passos largos e leves, quase que deslizando por minhas próprias idealizações. Tão particulares e frágeis ideias, que eu nunca sei com certeza por onde caminhar, tomado de um cuidado paternal que me faz desviar de todas e não pisar em alguma delas. Passadas ou presentes, são minhas ideias.

Logo, esbarrei em uma dessas primeiras ideias da vida - de quando eu ainda era muito pequeno - a vez em que eu tive a ideia curiosa de enfiar o dedo na tomada.
Comparado às altas tensões que a vida nos prepara e aos choques tomados em outros buracos onde os dedos entraram, a experiência foi pífia.

Um pouco mais à frente, reunidas em gritos de “Eu não te avisei? Agora aguenta!” estavam as “ideias de jerico”: as arrependidas.
Essas, eu somente observei com certa distância. Chamo isso de “cuidados para não-lamentos”.

Seguindo um pouco nesse meu “Vale das Ideias”, avistei as “ideias que trazem outra”, que são daquele grupo de ideias intelectualizadas, porém, um tanto desorganizadas dentre as minhas ideias. A questão é que sempre que eu tenho uma ideia e, dessa ideia surge outra, eu já me esqueci da anterior e tenho que vasculhar diversas ideias recentes, para achar aquela penúltima ideia surgida. Porque mesmo sabendo que é a penúltima ideia que eu tive, eu nunca me lembro dela. Da antepenúltima e das precedentes, eu me lembro. Então a técnica é ir até a antepenúltima ideia e desmembrá-la até chegar ao ponto seguinte, ao assunto posterior, que é a penúltima ideia tida: a não lembrada.
Um pouco confuso, eu sei, mas é assim mesmo nas minhas ideias...

Confesso que eu tenho preferência por alguns (poucos) grupos bem interessantes das minhas ideias, como as estimadas e respeitadas (por mim) “ideias malucas” - popularmente conhecidas (também por mim) como “ideias geniais”.
São daquelas que quando ditas em voz alta, as pessoas te olham de lado, em um controlado pavor corrente em suas veias, pois te acharam um tanto estranho ao proferi-las, e tendem a querer deixar o local com certa pressa, procurando a padaria mais próxima para tomar um chá de camomila, em dois goles, e comer um sonho - também em dois goles - de nervoso.
No fundo, e é o que incomoda as pessoas, essas são ideias mirabolantes para os tempos atuais, mas para você são das mais sóbrias. Ideias em que você deposita total confiança, como a um amigo, após a quarta dose de uísque, num bar do Baixo Augusta, na segunda-feira. Ideias fantásticas.

Outro grupo de ideias que visitei e que é, também, daqueles em que eu gosto de ficar horas passeando, é o das “ideias trocadas”. E os amigos fazem grande parte disso. Eles têm cinquenta por cento da responsabilidade.
É com eles que você troca mais ideias e, quando as visita, já não sabe se aquela foi sua ou se foi dele. São ideias coletivas, socializadas entre goles e risadas, abraços e conceitos. Ideias amigas.

Eu tive uma boa ideia, há muitos anos, e cruzei com ela, também, no "Vale das Ideias"
. Quando descobri que as tomadas davam choque, como relatei no início, eu parei de enfiar os dedos nas tomadas (só nas tomadas). Uma boa ideia. 

O grupo em que eu não quis nem passar perto, com todo respeito a elas, foi o das “ideias ruins”. Essas eu deixo quietas para que reflitam em seus cantos – são minhas ideias vazias.

Por fim, após vasculhar cada pedaço desse meu vale de ideias, que, confesso ser pequeno, talvez do tamanho do quintal de uma suposta casa onde eu não moro – casa idealizada – eu não consegui encontrar o que eu mais procurava: as “grandes ideias”.
Não faço a menor ideia de onde estão...

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21 julho 2014

==> Amar

Gosto de estar no mar. Digo, estar à mar.
Tanto faz se é verde, azul, mar de rosas, vermelho, negro ou morto. De qualquer forma (em sua forma) é mar.
Mar de sereia e sal, na solidão é boa companhia, mar que é fabuloso, aberto, estreito, das Antilhas. O aceito como for, basta ser lindo como na Bahia.
É o mar de Iemanjá que recebe presente em oferta gentil. É para navegar em alto-mar e, às vezes, se entregar sem volta. É mar para muitos navios.

Mar que abriu-se em fé e atende aos tantos cantos. À noite sobe em maré de estrelas, em lua cheia que me faz a cabeça. Sobem juntos os meus sonhos também. 
Mar que me dá banho, em qualquer lugar é poderoso. É forte no Mediterrâneo e no quadro de Turner, filho do Oceano.

Inspira histórias de Jorges e sons de Dorivais, esse amigo famoso. Inspira beijos de amor, é palco do surfista, casa de peixe, motivo de artista e companheiro do pescador.
Assim é o mar, estou à mar.

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