18 junho 2014

==> Palavras Desgraçadas

Sinto raiva, muita raiva das palavras.
Como se não lhes bastassem as noites me ferindo os olhos fechados, as dores de papéis rasgados e outros molhados, mesmo as lembranças com risos dos causos alheios ou os rascunhos de escritos, para me fazer inteiro e imune a qualquer sonho quebrado, elas fizeram um descaso.

Para essas senhoras da razão, ditadoras, donas dos meus sentimentos, controladoras dos sentidos, essas que estampam até os meus documentos, eu sou apenas um brinquedo a pilha, que para no canto, sem energia e ali fica.

Me fazem tão pequeno, destruído. Me tratam como se eu fosse um bandido, me maltratam sem aviso, nenhuma satisfação. Me sinto traído, caído em maldição como anjo quebrado em Festa de Reis. Para essas Marias, eu não sofro, não sou puro, sou imaturo e me deixam de lado outra vez. Vez essa, que não admito e faço agora um manifesto, quebro tudo e grito que não sou um lixo nojento jogado no poste, não sou resto que cachorro come e depois mija em cima, passa rato e todo mundo cospe. Isso eu não permito.

O que pensam, suas prepotentes, cretinas e irresponsáveis, suas bruxas indecentes, suas putas de atitudes reprováveis? Esculacham a da rua, essa gente que trabalha honesta, sem roubar, só vendendo o que nela nasceu ardente e se esquecem de que quem não vale migalhas, são vocês cruéis e injustas palavras.

Desde outros tempos, já me usam como capacho e eu mantinha o silêncio. Agora, cansei de ser otário, ao contrário. Falo tudo e não tenho medo de palavras. Falo na cara e aponto o dedo para essas malcriadas, insensatas, que ora me beijam, ora me deixam.

Como se não lhes bastassem os dias sufocando meus pensamentos abertos a lápis, caneta ou teclas empoeiradas, hoje, elas aprontaram o pior: não me vieram.

E combinaram o encontro. Disseram que trariam vinho, amendoim e mais sonhos, mas só fiquei com água do filtro de barro e pipoca. Sonhos também, esses eu sempre tive, mesmo sem rimas e antes de eu conhecer as palavras.

Voltando ao “não encontro” com essas sujas, vagabundas, ladras de vida, essas que secaram meus rios - palavras bandidas - por elas me desfaço e dito agora em desabafo, não por orgulho. Me prometeram e faltaram. Sou sujeito abandonado, em jardim sem predicado, prejudicado, oculto, apagado.

Me falam a verdade e me faltam com a verdade, suas vacas de tetas venenosas que me fazem chupar com vontade e golfar para fora da minha própria realidade, de poesia vazia, nem mesmo um quarto de verso nessa noite tão fria, em que eu carecia do jogo. Me ignoram no inverno, o tempo menos jocoso, pois bem, eu faço um protesto.

Não vieram e não mandaram nenhuma sílaba em representação. Ao menos, um verbo, acento, uma vírgula, mas só veio uma interrogação perdida. Nem mesmo a trema, tão inútil, nada usual. Caiu fora da linguiça, aposentou e encontrou a saída. Nunca mais voltou na nossa língua.

Palavras malditas, que sambaram em mim, me violentando em carnaval, agora eu fiquei puto e, sem meias palavras, decido: é ponto final!
Por hoje apenas, eu digo.

07 junho 2014

==> Sobre Noite e Dia

A noite,
se você não sabe
é o dia
vestido de sombras
Quando se cansa
tira sua camisola
de estrelas
Para dourar-se
em beleza
e veste uma bata
cerúleo,
para livrar-se
do escuro









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