13 junho 2015

==> Contemporâneo

A palavra não é só palavra porque é dita ou escrita.

Ela pode ser de qualquer forma, em outra língua e tudo mais. Mas aqui dentro ela é uma paleta com cores que explodem em qualquer tela, mesmo sem saber o que pintar.

É gestual, não acadêmica, antiarte de quintal, tecido vagabundo em tripé quebrado e torto, é surto de poesia, epidemia onírica, é não respeitar regras bizantinas, nem simetria. Aquarela encharcada em cuspe, gravura em papel de pão, piche riscando um grafite dispensado, num muro quebrado de um palácio decadente, onde um anjo repousa sem braços e, seguindo mais adiante, tem aquela rua que antes era trecho de protesto e, hoje, recebe uma feira de quinta.
Ela vai sem harmonia, de segunda a sexta, num gozo de tintas com todos os tons. Paisagem careta, natureza esquartejada, retrato de general que se transforma em riscos secos de pastel solto em poeira que o vento bate e leva para não sei onde.

Ela sofre, depois ri da sua própria poesia exagerada. Depois sofre de novo. E assim vai, até não pintar nada que comprem em vida.

Mas até que sai algum esboço que compensa.



    Imagem: M.C. Escher