02 setembro 2015

==> Do bem


Em benefício do estar, dou goles nas taças de bens que me satisfazem os olhos. Canto em bem maior ou o mais alto possível, para chegar ao infinito e noutro canto. Somo ventos a brisas, poças a rios enlameados e sonhos inteiros aos ainda não sonhados.

A bem do que é bom, me dispo das ausências que me vestem, descalço as botas do andar perdido em monólogo mágico. Sussurro ao ouvido que me entende calado, suado, zoado, nu ou maltrapilho, no frio da asa da caneca e quente como o chá de dentro, que me abraça vermelho e saboroso. (Assim, como meus pensamentos.)



16 julho 2015

==> Sobre hoje, quando acordei


Hoje eu acordei sem saber falar.
Passei um tempo em desespero, pensando que eu poderia nunca mais me comunicar com ninguém, cantar e ter o silêncio quando bem entendesse.

Me olhei no espelho e não vi meu rosto como ele é. Só vi letras, palavras. Tipografia de mim mesmo. 

As letras dançavam e as palavras formavam. Eram espirais, quadrados, círculos de frases que se concretizavam na minha pele. Poesia que batia em mim e não soltava, como tatuagem em tinta óleo.

Me lembrei que isso era absurdo e não poderia acontecer. Talvez fosse um sonho.
E era.
Incrivelmente concreto sonho!





























Imagem retirada de http://setimoverdemundopan.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.html

13 junho 2015

==> Contemporâneo

A palavra não é só palavra porque é dita ou escrita.

Ela pode ser de qualquer forma, em outra língua e tudo mais. Mas aqui dentro ela é uma paleta com cores que explodem em qualquer tela, mesmo sem saber o que pintar.

É gestual, não acadêmica, antiarte de quintal, tecido vagabundo em tripé quebrado e torto, é surto de poesia, epidemia onírica, é não respeitar regras bizantinas, nem simetria. Aquarela encharcada em cuspe, gravura em papel de pão, piche riscando um grafite dispensado, num muro quebrado de um palácio decadente, onde um anjo repousa sem braços e, seguindo mais adiante, tem aquela rua que antes era trecho de protesto e, hoje, recebe uma feira de quinta.
Ela vai sem harmonia, de segunda a sexta, num gozo de tintas com todos os tons. Paisagem careta, natureza esquartejada, retrato de general que se transforma em riscos secos de pastel solto em poeira que o vento bate e leva para não sei onde.

Ela sofre, depois ri da sua própria poesia exagerada. Depois sofre de novo. E assim vai, até não pintar nada que comprem em vida.

Mas até que sai algum esboço que compensa.



    Imagem: M.C. Escher


23 fevereiro 2015

==> Sonhossíntese


Vou ali colher as estrelas que plantei ontem.
Nos sonhos funciona assim: planta ontem, colhe hoje e continua a sonhar amanhã.

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